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domingo, 12 de fevereiro de 2012

FAÇA – “Ó Abre Alas que eu quero passar...”

Gostaria de agradecer o Jacques pelo convite a FAZer parte deste debate a partir de seu texto como desafio a instigar a reflexão clínica em tudo que comporta o Ato Psicanalítico. E para tal, ele inicia falando sobre a rivalidade dos pais com seus irmãos perpassando a relação pais e filhos, elucidando com recortes clínicos onde a formulação do imperativo super-egóico nos aponta a crueldade do real através de identificações alienantes.


E para abordar tais questões, Jacques nos convida a um passeio pelos seminários de Lacan. No Seminário 15 traz o ato analítico começando a partir da alienação. O eu da fala questionador do eu narcísico, alienado em significantes a antecederem-no. Já no Seminário 11 aponta a raiz da alienação apresentada por Hegel no vel, na impossibilidade de escolher entre liberdade e morte a desembocar na ‘liberdade de morrer’. Retoma o Seminário 15 para falar da impossibilidade residindo no “eu penso e eu sou” – ‘penso-sou’ de Descartes.


Ponto fundamental concerne ao destaque dado ao significante recalcado nisso que implica o sujeito a não representar mais o sujeito para outro significante por ele ser definido por efeito de discurso e por ser colocado à prova de sua demissão não podendo ser representado senão por sua ausência.


Cabe também a ênfase dada no paradoxo baseado na referência à negação abordada no Seminário 15, pois se o significante representa um sujeito, esse sujeito está antes e não podendo comparecer envia seu EMBAIXADOR.


Poderíamos então pensar no EMBAIXADOR, como significante a ser manuseado pelo analista? Tendo o EMBAIXADOR plenos poderes para representar o seu país (o sujeito) e celebrar tratados, sua função residirá EM BAIXAR a DOR? Amenizar aquilo que segundo Dolto, não pode advir completamente em certos neuróticos e psicossomáticos, ou seja, a cura? Haveria exceções? Quais seriam elas?
Ainda assim, acreditando não haver remoção total dos sintomas, trago como ponto crucial para nossa reflexão a importância do analista reconhecer seu limite – ponto onde ocorre um esgotamento, parecendo haver um nó indissolúvel a gotejar repetições que batem e apenas respingam sem quaisquer mudanças significativas e marcando a impossibilidade de ato.


Cabendo ao analista o Ato Psicanalítico, significa não ser ele todo objeto a. A alienação no amor transferencial ao sujeito suposto saber será o ABRE ALAS do FAÇA enquanto tarefa do fazer analisante. Ele abrirá o DESFILE dos significantes, dos EMBAIXADORES do sujeito. Esse carro alegórico fará do analista aquele a permitir adereços, apliques do analisante na eterna re-edição de sua história.


Já dizia Chiquinha Gonzaga: “ÓAbre Alas que eu quero passar, eu sou da lira não posso negar...” Fazendo uma analogia em lembrança ao CARNAVAL, o carro ABRE ALAS seria o amor transferencial como transportaDOR, abrindo espaço para os significantes que apenas deixam-nos entrever o sujeito da lira (tomada aqui como a deusa do silêncio eterno). Isso é inegável e por isso tão evanescente. O Ato Psicanalítico seria assim, a perspicácia em captar o efêmero, tirando o sujeito do eterno do seu silêncio.


As razões para o ESGOTAMENTO da relação analista-analisante podem ser diversas, mas certamente entre elas está a COMPLACÊNCIA – a disposição de atender os desejos de outrem para agradar. Quando o analista atende a demanda e reforça o analisante a permanecer neste visgo do amor de transferência, algo pegajoso e paralisante impede que o carro abra as alas, mostre as facetas do sujeito, interrompendo o desfile da ESCOLA DE SAMBA. O que fazer? Aguardar o próximo CARNAVAL mudando o ENREDO e talvez o PUXADOR DE SAMBA. Só assim o desfile poderá continuar e outras alas poderão ser visitadas e re-visitadas pelo sujeito, mostrando através de sua passagem o efeito de ato, mesmo que seja ele finalizaDOR de uma etapa.


E para abrir novas ALAS, trago o trecho de uma canção a ilustrar o compromisso do analista com a Psicanálise por meio de sua produção teórica, seus questionamentos e de certa forma a sua transmissão, bem como a importância de lidar com o real da impossibilidade do ato, assim como Xavier Audouard tão bem definiu: “O ato, se quiser ser reconhecido, não deixa de ser algo que não pode ser reconhecido, e, não podendo ser, nos engaja sempre, empurrando diante de nós nossa falta, a restituí-lo, a repeti-lo.” E para a sempre continuidade da Psicanálise...

“Quando eu não puder
Pisar mais na avenida
Quando as minhas pernas
Não puderem agüentar
Levar meu corpo
Junto com meu samba
O meu anel de bamba
Entrego a quem mereça usar
Eu vou ficar
No meio do povo, espiando
Minha escola
Perdendo ou ganhando
Mais um carnaval
Antes de me despedir
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final

Não deixe o samba morrer
Não deixe o samba acabar
O morro foi feito de samba
De Samba, prá gente sambar...”

(Ó Abre Alas - marchinha carnavalesca composta por Chiquinha Gonzaga.)
(Não Deixe o Samba Morrer – música composta por Edson Gomes da Conceição.)

Mônica Parreiras