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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

NOTA INTRODUTÓRIA - "As gueixas: um corpo a serviço do gozo?"

Os leitores devem estar se perguntando o porquê da escolha em abordar o presente tema, a saber, as gueixas, sendo esse um tema pertencente à uma outra cultura. Com os avanços científicos e tecnológicos, fica cada vez mais evidente a desvalorização das tradições e costumes, onde questões sócio-culturais têm caído no esquecimento.

As constantes modificações culturais vêm ocorrendo por uma série de fatores e dentre eles: o desenvolvimento da economia liberal sempre a convidar as pessoas a transporem os limites, o progresso tecnológico, as evoluções no campo da ciência genética e a horizontalidade das relações.

A globalização é efeito das repercussões da ciência aliadas à dominação correlata dos produtos da economia moderna na vida dos sujeitos. O corpo passou a fazer parte do capital e é tratado como tal. Há de se destacar também, um efeito unissex combinando bem com a ideologia de igualdade entre homens e mulheres. Para a ciência é perfeita a redução dos sujeitos em duas categorias: o trabalhador e o consumidor.
E quais os resultados dessas transformações para as mulheres? Durante séculos o gozo delas foi confinado ao perímetro da casa, restrito às funções de dona-de-casa e mãe. O mercado de trabalho as emancipou, mas alienou-as nos imperativos da produção. Daí a hesitação do movimento feminista ora reivindicando igualdade, ora protestando pela particularidade. Não existem campos não acessíveis às mulheres, em contrapartida pagam um alto preço por isso.

A emancipação feminina aponta fatos contraditórios. Por um lado a autonomia social e profissional das mulheres contribui para a ruptura dos casamentos e por outro, existe a aspiração de encontrarem o “homem ideal”. É a cultura da insatisfação nostálgica com um toque de depressão. As novas liberdades concedidas às mulheres as tornam juízas e mediadas do pai. Um discurso da responsabilidade materna ampliada a ponto de superar a do pai e veiculando uma inversão de valores.

De todas essas mudanças, vemos uma degradação onde sexo e amor ficam dissociados. Uma certa inibição no sentido do adiamento das escolhas e decisões, além de vermos mulheres “encarregadas” do pai. A separação entre reprodução e ato sexual, traz somente a esterilidade e a idade como obstáculos àquelas que pensam poder desempenhar as duas funções.

O meu interesse pelo universo feminino com todas as peculiaridades que lhe são inerentes foi a mola-mestra e propulsora para o desenvolvimento deste trabalho. A modificação dos valores me fez adentrar no fascinante mundo das gueixas. Um mundo sensual, exótico, misterioso, onde apenas um gesto pode ser sedutor como mostrar uma parte recatada da pele nua através de um simples manejar das mãos.

Pretendo dessa forma, abordar além de questões culturais, a devoção pela arte, o uso do corpo bem como, poder pensar na questão primeira, título do livro: As Gueixas – um corpo a serviço do gozo? Mas qual gozo está em questão?

Pensar todas essas questões só será possível se fizermos um trajeto indo desde a constituição do sujeito, da relação mãe-bebê, à importância da entrada do pai nessa relação, para depois focarmos na menina e aportarmos na mulher.

Para tal, convido o leitor a iniciarmos juntos essa viagem ao universo das gueixas, um universo onde sofrimento e beleza vivem lado a lado, pois são consideradas obras de arte ambulantes. Viagem ao “mundo da flor e do salgueiro” (Karyukai), alusão às preciosas e enigmáticas moradoras desses bairros.


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