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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Um pouco mais sobre a relação do sujeito com as drogas.

No que diz respeito ao tratamento, no espaço analítico como nos demais, a toxicomania é estruturada como uma resposta que varia segundo a questão endereçada. Assim, se o analista manifesta de algum modo o desejo de querer o “bem” de seu paciente (por meio de sua cura), este último só poderá recusar e desafiar essa nova sedução de um amor materno alienante, levando-o novamente a se entrincheirar na transgressão. E se a posição do analista vem duplicar um oferecimento de tipo materno, se repetirá com muita freqüência o mesmo roteiro, pois passará a demandar no lugar do paciente enquanto ele se refaz como o objeto do outro antes de desaparecer.

Podemos pensar então, na “abstinência” do analista devendo operar antes da do indivíduo, pois ela é fundante em primeiro lugar, da possibilidade de um espaço de fala, impedindo o analista de se constituir enquanto rival da droga ou como o destinatário dessa prática.

Não restringir a recaída ao momento do uso, mas pensá-la enquanto um processo indo da atividade à passividade e fazendo a inversão sujeito/objeto para objeto/sujeito, pode ser um facilitador no entendimento da droga como um adendo, algo se agregando à estrutura.

Outro pensamento sempre a ressoar pode ser traduzido pela indagação: Por que é mais comum o alcoolismo entre os homens? Será o futuro do filho macho mais comprometido por manter com a mãe uma relação simbolicamente incestuosa, onde ela lhe oferece o que recusa ao marido?


A partir desses questionamentos, me reporto à clínica, lembrando de quando trabalhava mais diretamente com dependentes químicos e fiz um levantamento a respeito dos alcoolistas por mim acompanhados, tendo como resultado um percentual de 90% deles como possuídores do nome do pai.  Pensando nos vários Juniores, Filhos e até Netos, sujeitos portadores do nome do pai, restando-lhes apenas o último nome como diferencial e ainda assim, remetendo ao pai. Sem qualquer postulado teórico, apoiada na experiência clínica e sem intenção de generalizar, observo constantemente os inúmeros casos de filhos (as), a quem denomino de “apagados”, alguns deles tentando fazer brilhar sua estrela própria através da toxicomania ou de outras patologias, vindos de pais e mães bem sucedidos profissional e financeiramente, mas bastante desajustados psíquica e emocionalmente. Ouso ir além na minha observação e prática clínicas, percebendo a dificuldade do menino em se sobressair por ter um pai considerado por ele ideal e no caso da menina a sua mãe. Quero com isso ressaltar outro ponto, ou seja, o do ideal do eu nos pais do toxicômano e do eu ideal do toxicômano.

Ao iniciarmos o trabalho com o toxicômano, é necessário fazê-lo elaborar nova queixa, uma queixa sua e não a do toxicômano, fonte enigmática de sofrimento para o despreendimento desse lugar de toxicômano. Acrescenta-se a isso, a importância de se interrogar o tempo de cristalização da fantasia para dar lugar a um “fechamento narcísico” (com freqüência muito antes de qualquer uso de droga).

O vínculo transferencial deverá se organizar em torno da retomada do questionamento fundamental dando ao sujeito o seu lugar: “Que quer o Outro de mim ?” ou “Que sou para o Outro ?” E as provocações e atuações durante o tratamento poderão muitas vezes ser entendidas como novas maneiras de formular essa questão, especialmente sob a forma de um “Você pode me perder”, traduzindo-se por faltas às sessões.

Essas são apenas algumas questões, mas poderemos retomá-las em outro momento e com outras associações.





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